segunda-feira, 2 de julho de 2012

De bike em São Paulo



PERIGOSO, MAS TENTADOR

É uma surpresa a cada instante. A visão está limitada e, a centímetros de distância, passam veículos maiores, mais velozes e barulhentos. De repente, um ônibus avança sobre o trânsito quase parado na Avenida Rebouças, ultrapassa o espaço de conversão e faz a curva quase em cima da minha bicicleta, passando por cima da zona segregada por tachões brancos cravejados no asfalto.

A cena é quase paralisante - apesar de não se ter onde fazer isso. “Nem pensar em por os pés no chão”, reflito ao ver somente uma barreira vermelha e desbotada ao lado. A lataria de um ônibus invade a pista em que pedalo e parece que serei levado junto.

Mas seguimos viagem - eu a quase dez metros de distância atrás de Helvio Gregório, ciclista que acompanhei para uma  reportagem especial do Estadão sobre qualidade de vida. Foi só um fino - como dizem os ciclistas quando outro veículo passa muito perto a ponto de assustar ou derrubar.


Passam das 18 horas de uma terça-feira de abril na Avenida Rebouças, zona oeste de São Paulo. Estamos pedalando no corredor entre duas faixas, com motos zunido num buzinaço perto dos ouvidos e motores de ônibus rangindo para entrar na pista da direita. Os ruídos fazem sinfonia com o chiado das freadas intermitentes de busões.
Sofro um desgaste ao pedalar na ruas paulistanas. Fora as atitudes imprevisíveis dos outros motoristas - a que credito parte do estado de alerta -, me incomodo com a fumaça preta que sai do escapamento dos ônibus e caminhões, irrita os olhos e o nariz, fragmentos de pedra e poeira que voam contra os olhos. Sensação angustiante.

Nesse cenário, atravessamos o trecho mais perigoso na rota de ida e volta entre o apartamento e o escritório de Helvio. Apesar de o trajeto ser complexo na região Rebouças e na Ponte Eusébio Matoso, a maior parte do percurso no Butantã e em Pinheiros parece ser tranquila quando os carros se distanciam. Em descidas, o vento contra rosto alivia a tensão. Ao fim de uma subida o corpo dói. Mas em geral o exercício entretém e revigora. Consigo curtir o “passeio” principalmente pela manhã. Só depende do horário de saída, de preferência fora do rush.

Noite ou dia, dispensa discutir: fisicamente, a bicicleta é o meio de transporte mais fraco no trânsito caótico em que corre a lei do mais forte.A vantagem é que o ciclista escolhe sempre o caminho que se apresenta mais cômodo. Vira pedestre, atravessa na faixa, em passarela, foge do semáforo vermelho... Encurta o trajeto. Isso quando se trata de distâncias como a que fizemos - de cerca de 5 quilômetros numa região com notórios congestionamentos e tráfego pesado.

Nunca havia pedalado em São Paulo. Tampouco tenho minha própria bicicleta. Aliás, fazia lá uns dois anos que não subia em uma para nada. No mínimo, posso dizer que voltei para casa exausto. Mas pensando em adotar a ideia. E a bike.

Agradecimentos: ao motorista Bertolini, aos fotógrafos JB Neto e Werther Santana, e ao Helvio pela paciência e disposição durante a gravação

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